Arte na Comunidade Educativa

Manuel Santos-Estévez lembra-nos que “a capacidade de produzir arte demonstrou um elevado grau de desenvolvimento intelectual nos primeiros seres humanos anatomicamente modernos”, reconhecendo que “a emergência de capacidades artísticas é um momento chave na história da nossa espécie”.

Roberto Sáez lembra-nos, também, que “desde as primeiras marcas de pés e mãos, os humanos – e não apenas o Homo sapiens registaram a sua passagem pelo mundo sob a forma de objetos, gravuras ou pinturas”.

Miró, e não, aparentemente, Picasso, como erroneamente se considera, terá dito: “Depois de Altamira, tudo é decadência”.

Hoje, independentemente do momento em que terá surgido o nosso impulso artístico, importa lembrar José Mendonça, reproduzindo, abaixo, a interpretação que, em nome do Agrupamento de Escolas de Estarreja, pude outorgar à evocação/exposição: “100 QUADROS |100 SANTO-ANTÓNIOS”, com a curadoria de Diamantino Matos.

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Diretor

 

Observação: Permitam-me que felicite o curador da exposição que, agora, se invoca, Dr. Diamantino Matos, pelo excelente trabalho de curadoria.

 

Pedir e, dar, de empréstimo

As ideias; as palavras; e, as imagens, às quais o tempo empresta contemporaneidade, permitem-nos, num exercício de liberdade, interpretar, com o necessário distanciamento, as transformações e as ruturas que, imanentes à nomenclatura social, fundaram a  expressão civilizacional que nos pede - emprestada, a imaginação para, no momento em que evocamos os 100 anos do nascimento de José Mendonça, perceber quem foi e o que criou o artista que, agora, nos empresta, por meio da generosidade de outras/os, um pedaço de presente, alicerçado numa porção do passado que, agora, nos é outorgado.

Concertamos, nesta relação que o passado nos convida a experimentar, os sentidos - numa visão multissensorial que nos aproxima as imagens da inteligibilidade que funde o imaginário com o real, e o nosso mundo com o mundo das imagens, numa experiência de imersão e de comunicação.

Na viagem que podemos realizar pelas imagens – pinturas, imergimos na dimensão imaterial das mesmas, numa aproximação a um espaço e tempo mediados pelo artista, que funde o velho e o novo, legando à evocação o anacronismo que, só, a invocação pode corrigir.

Assim, através das pinturas que nos pedem, de empréstimo, a imaginação, podemos recriar a realidade e o mundo de vivências e experiências do José Mendonça, partilhando, hoje, um espaço e tempo de comunicação e de relação com o artista, que cada imagem – pintura, espelha e aproxima.

A curadoria, através da intervenção que opera, empresta-nos, por sua vez, uma viagem que nos liberta das amarras do presente e nos transporta até às fronteiras do génio, através do traço, que o tempo e a experiência transformaram, não obstante a imutabilidade da natureza que nos acolhe e envolve, indiferente às ruturas que a realidade, na superação da imaginação, determina.

Ser é conhecer; e, conhecer é estabelecer relação com o “objeto” que os sentidos percecionam e constroem, num exercício de liberdade, que a “arte” nos empresta.

O direito à educação indistingue a ciência e a cultura, porquanto a tangibilidade e materialidade que a ciência corporiza, incorpora a intangibilidade e a imaterialidade que a arte, a crítica, a estética e, a ética, constroem, na assunção de uma realidade que, mesmo que imaginada, se assume real, verdadeira.