Exposição fotográfica – As máscaras abandonadas

Exposição de fotografia e projeção com áudio, intitulada “Abandonadas”, alusivo às máscaras de proteção individual que são indevidamente abandonadas (atiradas) .

 

Domínio da Saúde - Promoção da Saúde pública – Cidadania - Eco Consciencialização

Prof. Carlos Ribeiro


“Há os que a defendem como um compromisso ético que realizamos numa hora de tamanha vulnerabilidade como a presente. E há os que a temem como um distúrbio que trará consequências.”

José Tolentino Mendonça

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

“Quando hoje se googla a palavra “máscara” aparece uma infinidade de variantes de pesquisa: máscaras descartáveis, cirúrgicas, certificadas, personalizadas, reutilizáveis, transparentes e por aí fora. Esta repentina multiplicação de aceções quer dizer uma coisa: que entrou a fazer parte das práticas do quotidiano. De facto, após uma indecisão inicial, a máscara tornou-se um elemento base de proteção contra a pandemia. E assim, de uma hora para outra, a estranheza do artefacto se desfez pelo uso corrente, expectável e universal. Mas este acessório que adicionamos ao rosto — uma ajunta provisória e associada a esta conjuntura sanitária, espera-se — tem sido motivo para alguma reflexão de natureza antropológica. Há os que a defendem como um compromisso ético que realizamos, sinalizando que como indivíduos estamos empenhados em colaborar positivamente na construção do bem comum, numa hora de tamanha vulnerabilidade como a presente. E há os que a temem como um distúrbio que trará consequências. Neste caso, o medo em relação à máscara é o de que ela venha a alterar a perceção que fazemos dos outros e de nós próprios; que modifique os tradicionais mecanismos de proximidade; que contribua para ampliar a indiferença e a invisibilidade social. Medo, no fundo, de que a máscara possa cancelar o rosto ou substituir-se a ele. Um pouco na linha daquilo que Álvaro de Campos prevê no poema ‘Tabacaria’: “Quando quis tirar a máscara, / Estava pegada à cara./ Quando a tirei e me vi ao espelho,/ Já tinha envelhecido”. Ora, mesmo tomando esta posição como um clamoroso exagero ela tem, pelo menos, a vantagem de nos sensibilizar para a problemática da comunicação interpessoal, interrogando-nos sobre a forma como nos encontramos e desencontramos em tempo de pandemia.”

 

Fonte: Artigo do semanário Expresso - Opinião - A máscara - 13.11.2020 às 9h24

Fernando Pessoa

VIII - Ah quantas máscaras e submáscaras – T

VIII

 

Ah quantas máscaras e submáscaras,

Usamos nós no rosto de alma, e quando,

Por jogo apenas, ela tira a máscara,

Sabe que a última tirou enfim?

De máscaras não sabe a vera máscara,

E lá de dentro fita mascarada.

Que consciência seja que se afirme,

O aceite uso de afirmar-se a ensona.

Como criança que ante o espelho teme,

As nossas almas, crianças, distraídas,

Julgam ver outras nas caretas vistas

E um mundo inteiro na esquecida causa;

E, quando um pensamento desmascara,

Desmascarar não vai desmascarado.

 


Depus a Máscara

 

Depus a máscara e vi-me ao espelho. —

Era a criança de há quantos anos.

Não tinha mudado nada...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.

É-se sempre a criança,

O passado que foi

A criança.

Depus a máscara, e tornei a pô-la.

Assim é melhor,

Assim sem a máscara.

E volto à personalidade como a um términus de linha.

 

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Heterónimo de Fernando Pessoa

 


 

“Quando eu quis

tirar a máscara

ela estava pregada à cara.

Quando enfim tirei

e me vi no espelho

já tinha envelhecido muito”.

(Mar Português)

Tabacaria /Álvaro de Campos (F.P)

Fernando Pessoa