“We accept the reality of the world with which we are presented. It’s as simple that.”
Truman parece um homem vulgar, com um emprego vulgar: acorda de manhã, faz uma cena ao estilo Taxi Driver ao espelho que lhe aumenta o nível de autoestima, trabalha o dia inteiro à secretária, numa seguradora, regressando a casa para uma mulher sorridente e que o brinda com refeições quentes. Sonha, como qualquer homem vulgar, em sair da sua pequena terra, Seahaven, onde tem a sensação de clausura e repetição que um homem vulgar tende a sentir quando se apercebe de uma vida rotineira e cinzenta, na qual se sente aprisionado.
Mas Truman não é um homem vulgar: o seu sonho não morre perante os relatórios da companhia de seguros, os potenciais clientes que nunca aparecem, a comida caseira de Meryl e a vida confortável que leva. Truman quer sair da bolha em que vive e onde se sente, cada vez mais, a sufocar.
O que Truman (ainda) não sabe é que a sua vida é uma simulação criada por uma empresa televisiva, e que todo o mundo acompanha a sua vida desde nascença: nada é real.
A vida de Truman é um meio para a geração de lucro por parte de uma companhia que sabe aquilo que todos os Homens, em todos os lugares do mundo, têm em comum: uma necessidade desmedida de acompanharem a existência dos outros, de se compararem, terem inspirações ou criticarem a sua vida, superlativando a sua.
Assim, Truman é o símbolo do poder dos Media numa sociedade rodeada de revistas cor-de-rosa, influencers e passadeiras vermelhas, dos quais todos somos vítimas mais ou menos passivas e mais ou menos mortais.
“We accept the reality of the world with which we are pesented”. Aceitamos mesmo? Ou procuramos atrás da parede?
The Truman Show é uma distopia, mas não é a distopia pessimista de Orwell (apesar do mesmo sentimento asfixiante que provoca no espectador): é um apelo, uma prova de que um Homem sozinho e determinado é capaz de derrubar um sistema. Truman prefere a morte à falta de liberdade, e luta sozinho contra uma maré de olhos postos nele, mesmo depois de descobrir que toda a sua vida foi uma mentira: nunca teve amigos, nunca teve a sua propriedade nem a sua privacidade. Truman luta para atravessar a parede, mesmo ignorando o que está atrás dela. A isso se chama a busca visceral por essa palavra estranha e ambígua chamada LIBERDADE.
Carolina Bastos Pereira